o que se coloca no lugar de um desejo?
Há algo que ocupe o espaço do amor?
Hoje eu disse que estou sentindo que, aos poucos, estou me conformando. Estou me conformando com o fato de que talvez eu não tenha isso que eu tanto desejo. E não sei o que se coloca no lugar desse desejo, que me parece ser o desejo mais vivo do mundo, o mais forte de todos, o mais necessário. A pergunta não é “o que se coloca no lugar de um desejo?”, não é um desejo qualquer, não é uma roupa, um carro, uma viagem, um dia de folga. É o amor. O que se coloca no lugar do desejo? Não existe dança nesse mundo que me faça esquecer, no fim do dia, que eu não tenho o que tanto quero, embora eu tenho tantas coisas que eu sempre quis ter; embora eu esteja vivendo exatamente a vida que um dia eu quis viver. Não vai ter corpo, sexo, viagem ou paisagem que vai amenizar a dor, embora já nem doa mais tanto como outrora doía. Em alguns dias, não tem afirmação positiva, academia ou bom salário que reduza a ferida sempre aberta de quem já vivenciou rejeições seguidas, embora agora eu já saiba me despedir bem antes do não que sei que vou receber. Nem toda a terapia do mundo vai fazer a gente esquecer que, mesmo desejando também outras coisas, sempre vai ficar aquele vazio que nunca vai ser preenchido por nada, por mais divertidas e alegres que sejam as pessoas, os lugares, as experiências, as músicas, os shows, os carnavais… Alguma coisa no mundo substitui o desejo legítimo, sensível e sincero de querer receber amor? Um minuto em frente à artista basta? Um minuto em frente ao amor é suficiente? Sigo sugando todas as fontes de amor que encontro: nos abraços passageiros das danças, dos amigos, das videochamadas com a família, dos almoços de domingo. E ainda me falta. Sou pura falta. Desejante o tempo todo.
