O amor é pra mim também

Steffi de Castro
3 min readJun 4, 2024

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Eu sou a minha inimiga mais feroz. Na maioria das vezes, o que mais me faz mal não são os fatos em si, pois muitos deles sequer são completamente novos ou inesperados. Sempre sei quando sou vista como alguém pra sexo casual, ou quando serei uma pessoa passageira. Não é que eu seja negativa, apesar de ser um pouco, talvez nem tão negativa quanto acho, mas muito viciada em sofrimento. Eu sou uma pessoa realista, experiente e viciada em lamber as feridas e cutucá-las o tempo todo. Nunca saram. Tenho certeza que não sou uma pessoa ruim, porque recebo feedbacks muito bons e os difíceis a gente leva pra terapia e trabalha em cima deles. A maioria dos difíceis são meus mesmos, porque vivo num estado de constante alerta, uma observação de mim mesma que nunca acaba. E foi assim que descobri que eu sou a minha maior inimiga, porque quando dizem que sou incrível, que eu com certeza mereço ter alguém tão incrível quanto eu, que sou gigante, que sou bonita, que sou importante, eu não consigo só ouvir e ficar com isso. Queria só guardar todas essas palavras e sentir como se todas fossem as únicas verdades sobre mim. Mas as paranaóias sempre aparecem, os pensamentos ruins que são visitas constantes… Fico pensando que não vou encontrar. Não vou encontrar essa pessoa pra terminar a vida bem velhinho comigo, sabe? Se eu encontrei, deixei ir. Por que parece tão difícil me amar se me elogiam tanto? Por que parece tão difícil querer mais do que só a minha amizade? Por que eu não consigo oferecer um espaço seguro pro outro pra ele se sentir bem no meu colo e querer permanecer? Me sinto uma idiota, porque depois de tantos anos sozinha ainda não consigo simplesmente aceitar as coisas como são. As pessoas sentem pena de mim, porque sabem que é uma coisa que eu quero muito e que infelizmente não tenho. E nada muda isso. Não importa se eu me exponho muito, se me exponho pouco, não consigo fazer com que os resultados sejam diferentes pra mim. Me esforço pra ser agradável, compreensiva e não ser uma “louca”, como tanta gente já me pintou por aí. Fico quietinha aqui no meu canto, guardo minhas lamúrias aqui nesse espaço, jogo na escuta terapêutica e, com o tempo, para piadas que faço usando as intempéries da minha vida para divertir meus amigos e familiares, que, coitados, se emocionam com qualquer possibilidade de que eu possa estar finalmente com alguém que tenha enfim desejado ficar. Mas, nos últimos anos, ninguém se despediu de mim desejando manter-se definitivamente longe. Posso me alegrar com isso. Pelo contrário, todos querem me manter por perto, todos me encheram de elogios dizendo o quanto mereço tantas coisas belas nesse mundo e foram objetivos em dizer os motivos pelos quais nenhum deles eram essa pessoa. Tudo bem, aceito. Obrigada. Mas, aí vem aquela ruminação chatinha, né? Não tenho sorte no amor. Nunca mais vou ter alguém. Talvez eu nunca seja mãe. Tenho tentado mudar esses pensamentos. Pensar que sim, o amor é pra mim também. O amor é pra mim também. E não só porque eu quero, mas porque eu mereço.

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