Não tem como brigar com Deus

Saudades, vó.

Steffi de Castro
3 min readSep 15, 2023

Não há sinal mais forte que você é realmente adulto do que a morte. A aproximação dela, por diversas vias. Ver os seus amigos perdendo pais, mães e outras pessoas amadas. Ver amigos morrendo. Ou você mesma perder. Eu já perdi 2 pessoas muito importantes na minha vida: meu pai e, mais recentemente, minha avó. Amanhã fazem 4 meses que não temos a presença física da minha avó conosco. Temos seguido em frente. Temos nos esforçado para seguir em frente, em breve teremos uma bebê na família, isso tem nos alegrado também. As crianças têm sido as responsáveis pela manutenção de alguns laços, elas não imaginam o quanto estão sendo importantes. Tenho sentido dificuldade de estar mais com os meus, de estar mais perto. E me culpo por isso. Mas também estou tentando seguir em frente mesmo saber como. Hoje a ausência da minha avó pesou. Pesa sempre. Ir à casa dela é difícil. Olhar para o quarto e não vê-la, saber exatamente o que ela estaria fazendo em cada horário, pois tinha uma rotina impecável. Saber que ela estaria alegre e empolgada com a chegada de Alessandra, nos passando a segurança de que tudo ficaria bem. Esse ano tem sido o ano mais difícil da minha vida e, por um lado, tenho sido grata por estar atravessando-o com certa bravura e sem desistir. Embora os dias de choro estejam sendo mais constantes, não há como parar. O mundo não espera você ficar bem, não espera você aprender. As pessoas não sentem necessidade de se explicar pra você. Você não pode pedir ajuda pra muitas pessoas, porque nem todas conseguirão te ajudar. Todos estão muito ocupados e ocupadas, inclusive eu, sofrendo suas dores, lidando com suas questões, com suas responsabilidades e tropeços, suas tentativas acertadas ou frustradas e um combo de pequenos momentos de alegria aqui e ali. Eu tenho tentado seguir em frente para ficar como imagino que minha avó gostaria de me ver: bem. Todo o meu esforço tem sido direcionado para me sentir bem comigo mesma e com o que faço. Mas a dor de não ter mais esse abraço presente é enorme. Demorou para eu aceitar a morte do meu pai, por tudo o que a rodeou: o alcoolismo, o trauma, o cansaço, culpa, sentimento de impotência, a precocidade… Desta vez essa perda dói porque estamos lidando diretamente com a finitude de um jeito irreversível. Não havia mais nada que pudéssemos fazer. É uma dor de ter que aceitar que isso era o que aconteceria e não haveria nada pra mudar o jogo. Não tem como brigar com Deus. Não tem como reclamar. Não tem como pensar que tudo poderia ter sido diferente, principalmente porque havia muito amor entre a gente e isso não poderia ser diferente. O luto é um processo que não tem explicação. E, realmente, cada um vive de um jeito.

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